Potencial fusão entre Bayer e Monsanto reduziria concorrência no agronegócio Uma fusão entre a alemã Bayer AG e a americana Monsanto Co. colocaria uma fatia significativa do mercado de sementes e pesticidas nas mãos de apenas três empresas, elevando os temores de agricultores e legisladores de que os preços dos produtos subam e que haja menos opções de escolha no mercado. A Bayer confirmou ontem que entrou em contato com a Monsanto para negociar uma possível fusão. As conversas haviam sido divulgadas pela Monsanto na noite de quarta-feira. Embora os detalhes do acordo ainda não estejam claros, qualquer oferta de aquisição total seria avaliada em mais de US$ 42 bilhões, o valor de mercado atual da Monsanto. Qualquer nova consolidação da indústria deve levar autoridades antitruste do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e da Comissão Europeia a alterar suas análises dos negócios já anunciados do setor de agricultura, diz Andre Barlow, sócio da Doyle, Barlow & Mazard PLLC, firma que assessora empresas sobre fusões, mas não está envolvida em nenhum dos negócios agrícolas. Em pouco mais de seis meses, a Dow Chemical Co. e a DuPont Co. fecharam uma fusão — num acordo que depois dividiu a nova empresa em três novas companhias concentradas em agricultura, materiais e produtos especiais. E a estatal chinesa China National Chemical Corp. fechou um acordo para comprar a gigante suíça de sementes e pesticidas Syngenta AG. Ambos os acordos ainda estão sendo avaliados pelas autoridades. Os acordos “entre a Dow e a DuPont e entre a ChemChina e a Syngenta levantam suas próprias questões, mas o Departamento de Justiça terá de analisar a forma como as três ofertas podem impactar o cenário competitivo daqui para a frente no que se refere a sementes e na proteção de lavouras”, diz Barlow. Se concluídos, esses acordos e a potencial fusão entre a alemã Bayer e a Monsanto, colocariam 83% das vendas de sementes de milho dos EUA e 70% do mercado global de pesticidas sob o controle de apenas três empresas, gerando preocupação no setor agrícola num momento em que os produtores enfrentam forte pressão, após três anos de queda nos preços das commodities. “É praticamente certo que haverá bem menos concorrência no mercado e, como consequência, os agricultores vão acabar pagando mais caro”, diz Roger Johnson, presidente da União Nacional de Agricultores, grupo lobista de Washington que representa agricultores e pecuaristas. A Monsanto informou que seu conselho de administração vai considerar a oferta não solicitada da Bayer, mas afirmou que não havia garantia de que um negócio será fechado. A Monsanto explorou a possibilidade de consolidação antes, incluindo uma tentativa frustrada de comprar a Syngenta por US$ 46 bilhões no ano passado. Não está claro se a Monsanto está interessada em ser comprada ou se as duas empresas chegarão a um acordo sobre os termos de uma fusão. Empresas de sementes como a Monsanto e a DuPont entraram em guerras de preços para defender suas participações de mercado, à medida que um setor agrícola deprimido e o declínio de preços do milho e da soja têm forçado agricultores a reduzir os gastos com sementes, pesticidas, fertilizantes e equipamentos. A Monsanto, a maior empresa de sementes do mundo, também licencia genes que permitem que culturas biotecnológicas resistam a pragas, herbicidas e à seca. Nos EUA, os políticos que representam Estados do cinturão agrícola poderiam levantar receios sobre segurança alimentar quando confrontados com a possibilidade de que cerca de 40% das sementes de milho e soja usadas no país sejam vendidos por empresas de fora, caso a Monsanto passe a ser propriedade de uma companhia alemã. Ao mesmo tempo, a oposição a organismos modificados geneticamente é forte em grande parte da Europa. E apenas uma cultura biotecnológica tem aprovação para ser cultivada no bloco. Embora a oposição não se traduza em fundamentos legais para impedir a compra da Monsanto pela Bayer, dizem analistas, ela pode desencadear uma nova onda de oposição dos críticos às culturas geneticamente modificadas, que alegam que os pesticidas voltados para sementes biotecnológicas causam danos ao meio ambiente e que o plantio generalizado de monoculturas diminui a biodiversidade. “A Monsanto representa muito do que há de errado com o agronegócio”, diz Anton Hofreiter, que lidera a coalisão de oposição do Partido Verde no Parlamento alemão. “Ao mesmo tempo em que as pessoas ficam cada vez mais céticas sobre a indústria agrícola, a Bayer vai e investe nessa direção hostil ao consumidor e ao meio ambiente.” Os detalhes da proposta não foram divulgados, mas uma possível união da Monsanto, maior fornecedora de sementes agrícolas do mundo, com o portfólio muito mais amplo de pesticidas da empresa alemã criaria uma firma com 28% das vendas de pesticidas no mundo, 36% do mercado de sementes de milho nos EUA e 28% do de soja. O acordo entre a Dow e a DuPont fechado em 2015 criaria um rival com cerca de 17% do mercado mundial de pesticidas, 41% das vendas de sementes de milho nos EUA e 38% das de soja, segundo estimativas do banco americano Morgan Stanley. A venda da Syngenta para a ChemChina daria à estatal chinesa 26% do mercado mundial de químicos agrícolas, além dos negócios de sementes de milho, soja e hortaliças da Syngenta. Os analistas reagiram com opiniões divergentes sobre o mérito financeiro da potencial fusão entre Bayer e Monsanto. Analistas da gestora de recursos Sanford C. Bernstein & Co. disseram que uma aquisição total da Monsanto “não faz sentido financeiramente”, já que a Bayer provavelmente terá de emitir US$ 30,3 milhões em ações e captar US$ 16,8 bilhões em dinheiro, além de vender seu negócio de saúde animal para ajudar a financiar a acordo. Mas absorver a Monsanto e depois desmembrar os negócios de agricultura combinados “poderia criar valor”, disseram. Os investidores da Bayer parecem questionar o possível acordo. A cotação da Bayer caiu 8,2% ontem, para 88,51 euros. As ações da Monsanto fecharam com alta de 3,5%, para US$ 100,55. Tim Malterer, produtor americano de milho e soja, diz que compreende as vantagens das fusões para as empresas que querem cortar custos e serem mais competitivas. “Minha única preocupação é se vão pensar em nós também, consumidores finais, não só nos acionistas.” Por: Jacob Bunge e Jesse Newman
Fonte: WSJ
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